História da Arte |
Marte de Velázquez
Muitas pessoas consideram que a mitologia romana é idêntica à grega. No entanto, apesar das influências sofridas pela mitologia grega, a mitologia romana apresenta características próprias. Isso acontece devido às diferenças culturais de cada povo. Com relação ao homem grego, eles eram alegres e tinham um verdadeiro entusiasmo perante a vida, a viviam intensamente e a amavam. A contemplação, para os gregos era essencial e seu mundo imaginativo muito amplo, devido a isso suas histórias eram dotadas de criatividade e pensamentos bastante elaborados. Tinham fascinação pela contradição, como quando virtudes poderiam levar um homem à ruína ou a ascensão. Apreciavam as diferentes personalidades e caracteres. Seus deuses eram personalizados com poder e imperfeições individuais, deuses que cometiam erros e eram flagrados enganando seus conjugues. Mas também eram deuses heróicos, hábeis, amáveis, desenvolviam artes e habilidades essenciais de diversas maneiras como a musica, tecelagem, ferragem etc.
Em relação aos romanos, suas características se davam como sendo um povo mais disciplinado, menos imaginativo, que valorizava muito mais a estratégia e valentia do que "imagens verbais" criadas pelos poetas. Eram seres direcionados para o pensamento racional do que o abstrato. Não sendo tão fascinados pela vida e seus mistérios, esperavam terem uma vida melhor em outro mundo. Sua organização os permitiu manter e construírem um vasto império durante séculos. Valorizavam a guerra e guerreiros mais do que faziam os gregos.
A religião romana era prática, sem imaginação, estava estreitamente ligada ao dia-a-dia. Assim, atividades diárias normais eram diretamente relacionadas ao seu culto. Os deuses exerciam as mais importantes tarefas, como o arado da terra, o corte de árvores, a manutenção da chama sagrada nos lares e muitas outras. Tinham pouca personalidade, e freqüentemente nem mesmo o sexo era determinado. São poucas as menções escritas destes deuses e nenhuma literatura tradicional a respeito, portando não é de se admirar que os "ricos" mitos gregos tenham ganhado a imaginação da elite romana com o passar do tempo.
A mitologia romana arcaica, anterior ao contato com os gregos, cultuava três deuses principais: Júpiter, deus dos céus, posteriormente correspondendo a Zeus; Marte, o deus da guerra (Ares); e Quirino, que representava pessoas comuns. Após entrarem em contato com a cultura grega, surgem em Roma, inúmeros deuses e heróis muito semelhantes aos gregos, diferindo desses apenas o nome. Os romanos começam a cultuar Juno, identificada com a deusa Hera, e Minerva, com Palas Atena. Entre os séculos VI a.C e II a.C aparecem Baco
(o grego Dionísio), Diana ( Artemis ), Mercúrio ( Hermes), Netuno ( Poseidon), Plutão
(Hades) e Vênus (Afrodite).
O popular deus Marte, conhecido perante os gregos como Ares, exemplifica a cultura de cada povo e sua diferente visão perante o mundo e o ser humano. Entre os gregos, Ares é o deus da guerra, ou o espírito da batalha, símbolo da brutalidade e turbulência. Destemperado e freqüentemente retratado a praticar atos de violência gratuita, Ares não era uma divindade das mais populares, nem seu culto chegou a expandir-se da mesma forma como o de outros representantes do Olimpo. Nos legados históricos, Ares é pego praticando adultério e apresenta certa invalidez, algo nada dignificante para um deus. Havia mesmo algo de diabólico em Ares, que chegou, nos primeiros tempos, a receber sacrifícios de prisioneiros de guerra. Em Esparta, fazia-se também a Enialo, uma das representações de Ares, o ritual do sacrifício noturno de cães.
Para os romanos, Marte era visto como uma figura de prestígio, sua popularidade era superada apenas por Júpiter. Era também um deus da guerra, mas com papel adicional de protetor da agricultura e dos rebanhos.
Sendo Roma uma potência militar, cujo poder estava em boa parte fundamentado na organização e disciplina do exército, Marte não era apenas o guerreiro selvagem e bestial, mas um deus integrado ao restante do panteão e exercendo papéis bem definidos. Nele, a violência gratuita e anti-social de Ares ganha um propósito e uma utilidade. Ambos são deuses do corte, das armas, da força, da energia masculina, da iniciativa, do combate, da coragem, da adrenalina, porém a representação desses dotes é valorizada de formas diferentes perante a cultura grega e romana, onde para os romanos estas características eram vistas como virtudes essenciais em um homem, e para os gregos, motivos de repudia.
|