História da Arte |
La Pietá Del Vaticano
Perugia, capital da Umbria, com uma torre etrusca de quase 3.000 anos, cidade medieval no alto de uma colina, é o cenário mais perfeito para se estudar a história da Itália; ruas estreitas e sinuosas sobem e descem com calçamentos de pedras e fachadas centenárias. Foi em Perugia, na Universitá Italiana per Stranieri, que recebi as primeiras aulas de história da Arte Italiana, Lunedi, Martedi, Giovedi e Venerdi, às 8 horas. Sábado, às 9 horas, a melhor aula, geralmente durava até a hora de fechar a Universidade, meso-giorno. Em grupos saíamos para comer pasta com vinho não muito caro e trocávamos anotações das aulas.
Aos domingos, tomávamos o primeiro trem para Roma, com cadernos e lápis, visitávamos o grande museu que é a Cidade Eterna. Num domingo dedicado a Michielangielo, graças à Tessera¹ Personali fornecida aos alunos pela universidade, deitado no chão com um misto de curiosidade e espanto, contemplei extasiado o teto da Capela Sistina! Na parede do altar o Giudizio Finale, no qual o mestre trabalhou durante sete anos, de 1536 a 1543, sem interromper seus trabalhos de escultura.
A Sistina é o produto de uma gigantesca inspiração mística, difícil de descrever. Tanta beleza provoca risos nervosos e sobre tudo um respeito indescritível pelo mestre. Nos sentimos privilegiados por estar ali! Um nó na garganta nos impede de falar, só as lágrimas dizem o que sentimos.
Tendo o Papa Pio II desistido de construir o seu monumento, cujas plantas já estavam feitas por Michielangielo, e iniciado o trabalho de escultura, deu ao mestre o encargo da Sistina, para com isso distraí-lo do monumento. Bramante, protetor de Rafaelo, foi contra a escolha de Miguel Ângelo, achava talvez que Rafaelo pudesse superá-lo. A verdade é que Pio II não queria mais o seu monumento, e a Sistina era trabalho bastante para entreter o mestre.
Mas, de posse dos desenhos do monumento, estudando com vagar, claro que em tudo vê-se o monumento a Pio II, para o qual foi esculpido o próprio Moisés. Todas as figuras estão pintadas como se fossem esculpidas, não há no teto a preocupação de fundo, pode-se dizer que não há fundo pictórico e sim apenas o existente. Tudo é gigantesco, a imaginação é um momento divino, o colorido é fantástico. Colunas separam os quadros como no monumento separam as esculturas, tudo é belo, difícil dizer qual o monumento mais incrível.
A Creazione de Adão é emocionante, de uma beleza sublime, Adão deitado em abandono, com uma plástica perfeita, um colorido de vida, tem o deu dedo tocado pelo dedo de Deus, que por sua vez vem carregado em nuvens e anjos, com a barba e os cabelos batidos pelos ventos, de vestes agitadas, e o olhar dominante; de um lado Adão, sem energia e movimento, Deus é grandioso e imponente, tempestuoso. Nota-se, então, que entre um e outro o espaço está vazio, não há cores, não há fundo, colados no teto como se fosse possível nos pegar e colar em um teto.
Bramante tudo fez para dar a Rafaelo a parede do altar, mas felizmente não conseguiu. No Giudizio Finale destaca-se em plano principal a figura de Cristo que fulmina os condenados a tremenda maldição, à esquerda um anjo repele os condenados, à direita os eleitos; ao centro um plano abaixo de Cristo, os anjos com as trombetas e o livro, um convoca o Giudizio, outro lê o livro da vida, na terra os mortos se levantam para ir ao Juízo Final, adiante a porta do inferno.
A Sistina é a maior obra existente no gênero em toda a terra, só um escolhido de Deus teria feito este trabalho, quase um milagre. No teto as cenas se sucedem: Deus separa a luz das trevas, cria o sol e a lua, separa a terra das águas, cria Adão e Eva, surge o pecado original e a expulsão do paraíso, o sacrifício de Noé, o dilúvio universal.
Terminou a visita, na saída olhamos para traz, e nos lembramos que devemos voltar para ver a Cappella. Em outro domingo, na Cappella Paolina, vimos dois afrescos maravilhosos do mestre, La Caduta Di San Paolo.
La Conversione Di San Paolo
Na Igreja de San Pietro in Vincoli, construída no século V por Valentino III, à direita de quem entra, ao fundo, o Mausoléu de Giuliu II com o Moisés de Michieliangelo, é realmente impossível descrever o que se está vendo, e me disseram que não verei nada superior. A lenda conta que ao terminar Moisés, teria o mestre, depois de contemplar sua obra, batido-lhe com o cinzel e gritado: "perque no parla, bruto?!" O mestre deixou-nos ainda a Capella Sforza, na Basílica Di Santa Maria Maggiori, desenhou a Cappella Gregoriana in Vaticano, executada por G.Della Porta com absoluta fidelidade.
Como não seria possível não ver, fomos conhecer as duas Pietás, La Pietá Dei Vaticano e La Pietá Palestina. Das duas a mais bela, Dei Vaticano e a mais impressionante a Palestina, sua última obra. Aos 89 anos, seis dias antes de sua morte, trabalhou o mestre sem, contudo, terminá-la, mas deixou-lhe com todos os traços e vigor próprios de suas obras. As pernas do Cristo são trabalhadas com um carinho todo especial, as expressões faciais de ambas as figuras, a dor física, a dor moral se confundem em uma só imagem. O corpo de Maria surge como se saísse do corpo de Cristo, que é alongado e com uma energia diferente de abandono que se vê nas outras Pietás, a plástica anatômica apenas esboçada é de uma força extraordinária. A Pietá Rondamini está em Milão, mas é superada pelas duas outras.
La Pietá Palestina
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