História da Arte |
A construção chinesa sempre teve à sua disposição excelente material: pedra, madeira ordinária e essências preciosas, como o cedro. A cana também foi empregada abundantemente, uma vez que o caráter rural dominava tôda a civilização da China. 0 que melhor caracteriza a Arquitetura Chinesa está na inamovibilidade do seu estilo. Através de milênios a fixidez de tipos não se alterou. Parece ter havido pobreza de imaginação, ou tenacidade tradicional. Bastará referir que o programa e as regras que foram estatuídas para as construções públicas e privadas pela dinastia de Tchéu (1122-49 A.C.) ainda hoje são aplicadas. As influências que mais se poderão mencionar derivam da Mesopotâmia, através da irradiação da Ásia Central e Meridional sobre o Extremo Oriente.
No que toca, propriamente, à arquitetura domiciliar, e desde a arte chamada dos Hans, as casas de dois pavimentos sempre foram de pavilhões retangulares, sendo que o mais prolongado formava a fachada principal. 0 andar superior era sustentado por colunas. Repousava o telhado sobre a assentada de modilhões que suportavam a arquitrave.
Como a casa romana, a casa chinesa ficava completamente isolada da rua. No seu plano de conveniência, a morada se dividia em parte pública e privada. Entre elas ficava um pátio. No corpo da casa abria-se, na fachada principal, uma varanda, muitas vezes acompanhando os quatro lados que se comunicavam por coradouros cobertos.
A casa chinesa obedecia, em princípio, ao que se chama programa a Fengchuï, que estabelecia a assentada, à orientação, as proporções no sentido de facilitar ao proprietário a comunicação com os espíritos e os elementos. 0 Palácio Imperial, morfológicamente, em seu plano de corte, não se diferenciava da habitação privada, exceto pelo tamanho das proporções e pela série de andares. Quanto à arquitetura funerária, ela estava de tal maneira integrada na domiciliar que se acredita que o arquiteto chinês tinha em mente proporcionar ao morto confôrto idêntico ao oferecido ao vivo. Apenas duas partes são marcantes: uma para o cadáver e outra para as cerimônias funerárias de seu culto. Eis por que o túmulo ficava sempre cercado de ming-ki, isto é, de vasilhas, fôrmas, e outros utensílios costumeiros.
Em suficiente sinopse devemos atentar para certa particularidade da Arquitetura Chinesa. Em geral, o palácio e o mosteiro eram murados e se acompanhavam de pavilhões construídos de material frágil (madeira ou palha e barro), mas tudo obedecendo a rigorosa simetria.
0 clima - quente e pluvioso - reclamava determinadas particularidades na construção chinesa. No primeiro caso, deu origem ao desenvolvimento da cobertura, e, no segundo, ao fato de construir-se o templo, o palácio ou a simples casa com madeiramento sôbre a base de alvenaria de tijolo ou de pedra. Em geral, o edifício apresentava um duomo de tijolo com um pára-sol, símbolo da dignidade, sobreposto a um soco quadrado. A tôrre quadrada possuía pavimentos sempre em número ímpar. Os tetos eram cobertos de telhas que os ultrapassavam, formando pronunciados beirais. Todo o edifício ficava coroado por uma agulha circundada de anéis, configurando o pára-sol indiano.
Quanto ao efeito constante, dever-se-á indicar uma espécie de dualidade evidente: de um lado, a ordem estética, certo gôsto aprimorado pela medida e pela moderação; de outro lado, como oposição, a exibição do luxo e, principalmente, de tudo quanto é díspar e se inclui no domínio do contraste e do fantástico. Neste último caso predominavam, com excesso, as formas sinuosas.
Não se esquecerá que certos dêsses pendores como que se deveriam ter enseivado no jardim sinográfico, cuja fisionomia se divulgou na Europa. E pelo, menos foi praticado no século XVIII, em França, com o curioso nome de Chinoiserie. Por ele bem se poderá julgá-la. A jardinaria como que representava aquela referida dualidade da arquitetura no plano urbanístico. Mas, neste particular, aquela duplicidade se conseguia apenas em materialismo de vigor, ao, lado de um modo industrial muito artificioso. 0 jardim chinês, fazendo parte integrante da Arquitetura, procurou figurar um mundo em miniatura, com seu regime natural, ampliado por meio estéril da composição heteróclita de coisas inanimadas.
Talvez, assim, se sintonize o grande interesse que a sensibilidade china possuía pelos efeitos ornamentais: não se satisfazia com o material, deleitava-se com o artificial, que imitava o real e prolongava no composto o imaginado.
Elaborado por Guilherme B. Uemura
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