Biografia |
Nasceu em Roma, em 1925 (filho de pai brasileiro e mãe italiana, foi registrado na embaixada brasileira). Pintor, escultor, paisagista, designer e crítico de arte, o artista chegou a São Paulo em 1946. Fez parte do Grupo Ruptura com Geraldo de Barros, Lothar Charoux, Kazmer Féjer, Leopoldo Haar, Luís Sacilotto e Anatol Wladislaw, que em 1952 teve sua primeira exposição no MAM/SP.
Liderou o movimento concreto em São Paulo. Em 1965, recebe o Prêmio Itamaraty na Exposição Internacional de Arquitetura, realizada por ocasião da 8ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 1970, introduz a computer art no meio artístico brasileiro. Ainda nesse ano participa de várias exposições de computer art: Computer Plotter Art, na Galeria do Usis (considerada a primeira mostra de computer art realizada na América Latina); Computer Graphic 70, na Brunek University, Londres; Computer Graphic Artman, Rio de Janeiro; Computer Grahic Roof of Groenland, em Amsterdã; e Computer 70 Olympia, em Londres.
Em 1971, promove a exposição e conferência Arteônica, na Faap, São Paulo. Em 1972, é contratado pela Unicamp para criar um centro de processamento de imagens e participa das exposições 13º Salon Grands et Junes d'Aujord'hui, Paris; Grand Palais des Champs Elysées, Paris; e Internacidonal Computer Art Exhibition, Montreal. Waldemar Cordeiro participou ainda da 1ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª, 9ª (Prêmio Aquisição Itamaraty), 12ª e 13ª Bienal Internacional de São Paulo. Morre em 1973, em São Paulo, e, em 1983, o Centro Cultural São Paulo realiza retrospectiva póstuma. Em 1986, o MAC/USP organiza uma importante exposição retrospectiva de seu trabalho.
Os primeiros trabalhos de Waldemar Cordeiro no campo de processamento de imagens (Beabá, Derivadas de uma Imagem, Retrato de Fabiana e A Mulher que Não É B.B.) foram realizados em colaboração com professores da USP. O desenvolvimento dessas pesquisas se deu no Centro Arteônica do Instituto de Artes da Unicamp, criado pelo reitor Prof. Dr. Zeferino Vaz, no segundo semestre de 1972, e coordenado por Waldemar Cordeiro. O Centro Arteônica teve no Brasil papel pioneiro na pesquisa sistemática de algoritmos para a geração automática de imagens.
IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA
Waldemar Cordeiro talvez seja o nome mais importante das artes eletrônicas no Brasil pelo papel histórico estratégico que desempenhou. Na década de 50, ele era já um dos membros mais proeminentes da cena vanguardística brasileira, tendo sido também o principal teorizador da arte concreta. Mas logo se lhe afigurou que as formas artesanais de pintura ficaram datadas, restritas a uma espécie de "era paleocibernética da história da arte", como ele mesmo chegou a definir. A importância de Cordeiro está ligada ao fato de sua aproximação com as novas tecnologias ter-se dado a partir de uma profunda convicção, bem fundamentada teoricamente, de que as artes sofreriam mudanças radicais nesta segunda metade do século, graças à mediação tecnológica, à absorção de processos industriais e à incorporação de novos circuitos de difusão. Poucos artistas no Brasil tiveram isso tão claro e nortearam sua obra com base nessa perspectiva radical, ainda mais de forma tão precoce, numa época em que essas discussões mal começavam ainda a vir à tona em alguns poucos lugares do mundo. Já nos 60, ele defendia o aprendizado de linguagens de programação pelo artista, de modo a extrair o máximo de sua relação com as novas máquinas que estavam sendo inventadas. Em 1971, ele organiza na Faap, São Paulo, a primeira grande exposição e conferência sobre arte/tecnologia, o evento Arteônica, para o qual convidou as mais proeminentes personalidades do mundo artístico e da crítica especializada. Arteônica foi um evento pioneiro (e não apenas em termos de Brasil) na reunião de todas as inteligências que estavam naquele momento pensando as mudanças radicais que estavam ocorrendo nas artes.
Nessa época (anos 60), começavam a florescer, sobretudo na Europa, as chamadas estéticas informacionais, que visavam construir modelos matemáticos rigorosos, capazes de avaliar (isto é, quantificar) a informação estética contida num objeto dotado de qualidades artísticas. Essa tendência, que tinha em Abraham Moles e Max Bense os seus expoentes mais conhecidos, visava aplicar à produção artística princípios formulados na confluência da teoria da informação com a cibernética. As estéticas informacionais visavam tornar objetiva, racional, científica a apreciação do objeto artístico, com base na sua carga informativa, ou seja na sua taxa de originalidade (não redundância). Para elas, uma composição plástica ou musical não poderia mais ser avaliada com base em conceitos vagos e psicologizantes, tais como "expressão", "emoção", "inspiração", mas sim na percepção de qualidades estéticas mais abstratas, tais como a novidade, a configuração, a estrutura, etc. Se bem que essa tendência julgava construir modelos probabilísticos universais, aplicáveis à produção estética da humanidade de qualquer tempo, os seus postulados se prestavam melhor a uma certa corrente da arte contemporânea, aquela justamente que baseia seus princípios formativos no computador e na sua maneira de operar. É o caso da música de Xenakis, a poesia de Gomringer e sobretudo do trabalho plástico de Waldemar Cordeiro. Talvez até seja o caso de se dizer que as estéticas informacionais derivam, antes de mais nada, da existência mesma desses trabalhos criativos, resultando na conseqüência teórica inevitável de uma certa informatização da produção artística. De qualquer modo, não deve restar dúvidas de que essa tendência define a afinidade máxima da arte com as tecnologias de ponta, na medida em que os seus postulados privilegiam a organização sintática abstrata, a economia expressiva, a otimização informativa, a produtividade enfim de um certo tipo de mensagens destinado a ocupar espaço em memórias artificiais, a circular em redes e canais de trânsito eletrônico e ao armazenamento sob forma numérica.
Há, entretanto, uma outra faceta da personalidade de Cordeiro que só aparentemente se choca com aquela esboçada acima. Como se sabe, Cordeiro foi membro do Partido Comunista, primeiramente na Itália (onde viveu os primeiros 20 anos de sua vida) e depois no Brasil. Dentro de um conceito gramsciano de cultura, Cordeiro vislumbrava a possibilidade, num país de dimensões continentais como o Brasil, de construir uma cultura nacional (de dimensões internacionais) graças à comunicação eletrônica. A televisão, naquela época, mal tinha começado ainda a construir a sua hegemonia e Cordeiro já adivinhava o que viria a acontecer logo em seguida. Mas a perspectiva do artista não era de maneira nenhuma adesista. Pelo contrário, como comunista convicto, Cordeiro acreditava que as forças mais progressistas do país poderiam tirar um enorme proveito da comunicação eletrônica e da disseminação das novas tecnologias, transformando-as em instrumentos de uma outra espécie de combate e de uma outra forma de fazer política. Em sua visão utópica, o artista acreditava que a eletrônica ajudaria a transformar a arte numa fenômeno popular, por meio da fácil e rápida transmissão de mensagens em larga escala. Curiosamente, dentro do terreno um tanto quanto asséptico da arte/computação, a obra de Cordeiro é aquela onde a veia crítica e participante está mais evidente.
O primeiro experimento de Cordeiro com computador (e possivelmente a primeira experiência artística dessa espécie na América Latina) aconteceu em 1968, quando o artista teve acesso a um computador IBM 360/44 da Faculdade de Física da USP e à orientação profissional do físico também italiano Giorgio Moscati. O experimento produziu a série Beabá, também conhecida como Conteúdo Informativo de Três Consoantes e Três Vogais Tratadas por Computador, nome derivado do fato de as imagens serem produzidas aplicando as probabilidades estatísticas de ocorrência de determinadas letras na língua portuguesa. Os trabalhos seguintes - Derivadas de uma Imagem, Retrato de Fabiana e A Mulher que Não É B.B. - foram produzidos transformando o conjunto de retículas de imagens fotográficas preexistentes em valores numéricos (técnica que depois seria chamada de digitalização) e, em seguida, atribuindo a cada um desses valores numéricos uma letra equivalente, para permitir imprimir a imagem numa impressora de texto. Em alguns casos, como em Derivadas de uma Imagem, há ainda uma certa distorção da imagem, produzida pela aplicação de uma certa taxa de perturbação randômica.
Em 1972, Cordeiro concebeu um novo processo utilizando um plotter de quatro cores para produzir imagens coloridas, mas a sua morte prematura, em 1973, impediu que a idéia fosse suficientemente desenvolvida. Dessa nova experiência restou-nos, entretanto, um trabalho notável - Pirambu (1973) - em que, mais uma vez, a mensagem política se combina adequadamente com a inovação formal.
ATIVIDADES EM ARTES
1971 - São Paulo SP - Arteônica, na Faap - idealização e realização
EVENTOS SELECIONADOS
1969 - São Paulo SP - Computer Plotter Art, na Galeria do Usis (considerada a primeira mostra de computer art realizada na América Latina)
1970 - Londres (Inglaterra) - Computer Graphic 70, na Brunek University
1970 - Rio de Janeiro RJ - Computer Graphic Artman
1970 - Amsterdã (Holanda) - Computer Graphic Roof of Groenland
1970 - Londres (Inglaterra) - Computer 70 Olympia
1971 - São Paulo SP - Arteônica, na Faap
CORDEIRO, Waldemar. Arte analógica e/ou digital. In: ARTE novos meios/multimeios: Brasil 70/80. Apresentação Daisy Valle Machado Peccinini de Alvarado. São Paulo: FAAP, 1985. p. 191-192.
CORDEIRO, Waldemar. Realismo: musa da vingança e da tristeza. In: WALDEMAR Cordeiro: uma aventura da razão. Comentário Ana Maria Belluzzo. São Paulo: MAC, 1986. p. 130.
CORDEIRO, Waldemar. Uma nova variável para o modelo de organização territorial: a evolução dos meios eletrônicos de comunicação. In: WALDEMAR Cordeiro: uma aventura da razão. Comentário Ana Maria Belluzzo. São Paulo: MAC, 1986. p. 161.
CORDEIRO, Waldemar. Arteônica: o uso criativo de meios eletrônicos nas artes. São Paulo: Editora das Américas, 1972.
CORDEIRO, Waldemar. Computer plotter art. São Paulo: USIS, 1969.
GLUSBER, Jorge. Arte y computadoras in Latinoamérica. Buenos Aires: CAYC, 1973.
FABRIS, Annateresa. Cordeiro: computer art pioneer. Leonardo, v. 30, n. 1, fev. 1997. p. 27-31.
WILDER, Gabriela Suzana. Waldemar Cordeiro: pintor, vanguardista, difusor, crítico de arte, teórico e líder do movimento concretista na década de 50. 1982. 294 f. Dissertação (Mestado) -Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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