Biografia |
NUCA [Manoel Borges da Silva] (*1937 / + 2014)
Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
O ceramista Manoel Borges da Silva, conhecido como Mestre Nuca, Nuca de Tracunhaém ou Nuca dos Leões, nasceu no engenho Pedra Furada, município de Nazaré da Mata, na zona da mata norte de Pernambuco, no dia 5 de agosto de 1937.
Filho de agricultores pobres, Nuca foi morar em Tracunhaém em 1940. Começou desde criança a mexer com o barro, fazendo brinquedos inspirados em figuras do seu cotidiano como cavalinhos, boizinhos, casinhas, para vender na feira de Carpina, cidade vizinha. Ajudava também a família rabalhando nas casas de farinha.
Em 1960, casou-se com Maria Gomes da Silva, conhecida hoje como Maria de Nuca, que passou a ajudá-lo com o artesanato do barro. Só a partir de 1968, no entanto, quando esculpiu seu primeiro leão, se considera um artista.
Segundo ele, o leão sentado, figura que marcou seu estilo, surgiu de uma idéia dele com a esposa. A característica mais marcante é a juba encaracolada, feita com dezenas de fragmentos circulares meio achatados. O cabelo cacheado do animal foi idéia de Maria. Por isso Nuca afirma que "O leão é meu. O cabelo é dela". Há ainda os leões com jubas de lista e o escamado e até um leão de trança "que Maria inventou de botar".
Uma outra peça também muito característica da obra dos dois artesãos é a boneca com as mãos cheias de flores e os cabelos cacheados. Eles produzem ainda outras figuras como anjos, pinhas, peixes, galinhas e outros animais.
O barro utilizado na confecção das esculturas vem de Cupiçura, na Paraíba, e as peças, queimadas em forno a lenha, não são esmaltadas nem decoradas ou pintadas. A apresentação final é em terracota.
Nuca conheceu e conviveu com diversos ceramistas em feiras e salões de arte popular, entre eles Zé do Carmo, Ana das Carrancas e Vitalino. Participou de uma feira em São Paulo, organizada pela Empresa de Turismo de Pernambuco - Empetur, em 1976, o que ajudou a torná-lo conhecido nacionalmente.
Em 1980, conseguiu ultrapassar as fronteiras brasileiras levando seu trabalho para Lima, no Peru.
Atualmente, os trabalhos de Nuca e Maria estão presentes em antiquários, coleções particulares, galerias de arte, museus e em espaços públicos, como as praças do 1º Jardim em Boa Viagem e a Tiradentes, no Recife, e nos jardins do Sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro.
O ceramista procurou repassar seu ofício aos filhos. Porém, só dois deles (são seis), se dedicam ao artesanato do barro: o mais velho conhecido como Marco de Nuca, policial militar, que nas horas vagas trabalha na confecção do leões e José Guilherme, o mais novo, que faz as bonecas.
Hoje, impossibilitado de trabalhar com o barro depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral, Nuca se encontra com o lado esquerdo paralisado, submetendo-se a sessões de fisioterapia para tentar recobrar os movimentos. Sua esposa Maria, diabética, além de não enxergar bem, teve que amputar as duas pernas e anda em cadeira de rodas.
Os descendentes de Nuca tentam fazer com que a sua arte não termine com ele.
Indicado pela Câmara Municipal de Tracunhaém e contemplado pela Lei do Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco, em 2006, Nuca passou a receber uma pensão vitalícia de R$750,00 que, além de ajudar na alimentação e compra de medicamentos, contribuirá para não "deixar cair meu artesanato" afirma o artista.
|