Biografia |
nascida e criada em Araçuaí, é uma das famosas artesãs desta cidade. Mais conhecida como Dona Lira, expôs em várias galerias brasileiras e tem em seu trabalho uma mescla de influências indígenas (Araçuaí foi, no passado, um local com população indígena) e negras (nas fazendas do vale trabalharam muitos escravos negros). Seus temas mais recorrentes são as máscaras de cerâmica.
Quando era pequena brincava de modelar com cera de abelha que seu pai utilizava para colar sapatos. Na mesma época se interessava pelas cerâmicas não-queimadas de sua mãe (Dona Odélia). Sua mãe fazia presépios de barro para presentear amigos e familiares na época de Natal. Ela dizia-me: "Minha mãe tinha muito gosto em fazer arte." Dona Odélia também fazia caricaturas em barro para brincar com os conhecidos e amigos, como me comentava Dona Lira. As peças de Dona Odélia não iam ao forno e eram feitas de uma mistura de argila, cinza e trigo.
Foi uma ceramista da região, Dona Joana Poteira, que instruiu Dona Lira nos caminhos das técnicas da cerâmica. Ela a ensinou a "mexer com barro", levando-a ao "barreiro" (lugar onde se retira a argila, que o povo em Araçuaí chama "olaria"), ensinando que "o barro se tira em lua fraca", mostrando como se fazia um forno, como preparar o barro (socar o barro no pilão; sovar, batendo com as mão para ficar sem bolhas; colocar os bolinhos nos sacos plásticos, etc), como escolher a lenha para a queima, como arrumar as peças no forno e como atear o fogo, entre as várias etapas do processo cerâmico.
Hoje em dia, além de dedicar-se a suas máscaras de cerâmica, Dona Lira faz "pinturas de terra", como ela mesmo chama, que são obras de pintura de argila sobre papel, utilizando as várias cores da argila para produzir peças de mais fácil acessibilidade para os "consumidores". Essas pinturas mesclam, a meu ver, elementos católicos, indígenas e da cultura negra. A partir da produção desses "desenhos", ela me diz, passaram a chamá-la de "artista plástica".
Dona Lira me informa que foram a presença da empresa Codevale (Comissão do Desenvolvimento Vale do Jequitinhonha) e do Projeto Rondon, ambos nos anos 1970, que divulgaram para o Brasil os artistas da região e seus trabalhos. Também na década de 1970, junto a frei Chico (Francisco van der Poel, ofm), ajudou a fundar o Coral Trovadores do Vale, de que se orgulha muito.
Com o mesmo frei Chico, Dona Lira trabalhou recolhendo orações (rezas contra quebranto, mal-olhado, etc), cantos variados (batuques, de roda, de beira-mar, de cegos, etc), histórias e muitas outras peças de tradição oral que ouviu pelo vale afora. Com a especial ajuda de Dona Lira, frei Chico lançou o livro Abecedário da Religiosidade Popular (Van der Poel, F. Ribeirão das Neves, 2008), uma expressiva coletânea de verbetes sobre a rica e variada religiosidade e cultura popular brasileiras.
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