Biografia |
ris Salcedo (Bogotá, 1958) talvez seja a artista colombiana de maior reconhecimento internacional. Ela vive e trabalha em sua cidade natal, Bogotá. Após concluir o bacharelado em Belas Artes na Universidade de Bogotá, em 1980, viajou para Nova York, onde concluiu seu mestrado na Universidade de Nova York. Em seguida, retornou a Bogotá e tornou-se professora na Universidade Nacional da Colômbia. Em suas instalações são frequentes os objetos cotidianos, como móveis de madeira e peças de vestuário.
A obra de Doris Salcedo parte da memória da violência política. Dá forma à dor, ao trauma e à perda, criando um espaço para o luto individual e coletivo. Esses temas poderiam relacionar-se à sua história pessoal, já que membros de sua família estavam entre os muitos desaparecidos no conflito colombiano, mas restringir a significação de seu trabalho às circunstâncias específicas de seu país seria mero reducionismo. Segundo a própria Doris Salcedo:
"Centrei toda minha obra na violência política. No início de cada trabalho há um testemunho. Então todas as obras, todas as instalações que faço estão relacionadas a isso. Parto sempre de um testemunho real e em cima disso vou construindo algo que já não é tão precisamente sobre essa vítima, mas que leva a uma memória que é algo um pouco mais amplo sobre esse tipo de eventos."
A obra de Doris lida com o vazio insuportável deixado pelo desaparecimento. Nela a presença de objetos frequentemente representam ausências, como no caso de 6 e 7 de novembro (2002), em que cada umas das 280 cadeiras vazias que desciam lentamente a fachada do Palácio de Justiça (a suprema corte colombiana) representava a ausência de alguém que a teria ocupado antes da chacina que resultou da violenta tomada do prédio pelos guerrilheiros do M-19 e da reação do exército e da polícia ao ato.
Doris Salcedo foi a oitava artista convidada a ocupar a Turbine Hall da Tate Modern, em Londres. Nela, apresentou instalação Shibboleth (2007), uma rachadura de 167 metros de extensão no piso da galeria. Para Salcedo, essa rachadura "representa fronteiras, a experiência dos imigrantes, da segregação, do ódio racial. É a experiência de uma pessoa do terceiro mundo, vindo para o coração da Europa"
Doris Salcedo aborda o esquecimento e a memória em suas instalações. Em obras como Unland: A túnica do órfão (1997), e a série Casa viúva (1990), Salcedo transforma itens corriqueiros, como cadeira e mesa, em memoriais para as vítimas da guerra civil na Colômbia.
Em seu livro Passados presentes: palimpsestos urbanos e políticas da memória, Andreas Huyssen dedica um capítulo a Doris Salcedo e a sua obra Unland: Os Órfãos da Túnica, apresentando seu trabalho como memory sculpture (escultura de memória). Huyssen descreve a peça detalhadamente, uma mesa aparentemente banal que, de perto, "captura a imaginação do espectador em sua presença material inesperada e assombrosa."[6] Um móvel aparentemente cotidiano é, na realidade, composto de duas mesas unidas e coberto com um véu de tecido esbranquiçado, presumivelmente, a túnica do órfão. Um olhar mais detalhado revela centenas de pequenos cabelos humanos, que parecem ser a linha que costura a túnica à mesa. Huyssen compara a estrutura das mesas ao corpo. "Se a túnica é como a pele... então, a mesa ganha a presença metafórica de corpo, não de um órfão individual, mas de uma comunidade órfã."
Durante uma conversa com Carlos Basualdo, Salcedo discute sua própria abordagem para a produção de arte:
"A forma com que uma obra de arte reúne os materiais é incrivelmente poderosa. A escultura é sua materialidade. Trabalho com materiais que já estão carregados de significado, denotações da prática da vida cotidiana... então, eu trabalho até o ponto em que aquilo se torna outra coisa, em que a metamorfose é alcançada."[7]
Em entrevista de 1998 com Charles Merewether, Salcedo retoma essa noção de metamorfose, descrevendo a experiência do espectador com a sua própria reparação ou restauração artística do passado.
"A contemplação silenciosa de cada espectador permite que a vida vista no trabalho ressurja. A mudança ocorre, como se a experiência da vítima estivesse sendo alcançada... A escultura apresenta a experiência como algo presente - uma realidade que ressoa no silêncio de cada ser humano que lhe dirige o olhar." [8]
Salcedo utiliza objetos do passado, imbuídos de um importante sentido de história e, por meio dessas esculturas da memória contemporâneas, ilustra o fluxo do tempo. Ela une o passado e o presente, promove uma reparação do que vê como incompleto e, aos olhos de Huyssen, apresenta "a memória à beira de um abismo... memória no sentido literal... e memória como processo."
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