Biografia |
Cristina Canale (Rio de Janeiro, RJ, 1961). Vive e trabalha em Berlim.
A pintura de Cristina Canale revela traços bastante singulares, notadamente a maneira como os elementos figurativos da composição estão sempre à beira de uma iminente dissolução na abstração. Suas paisagens parecem retratar, como já foi observado, um mundo líquido, em que uns poucos elementos reconhecíveis surgem por entre campos de cor que se justapõem de maneira sempre harmônica, apesar da ampla variedade de cores em todos os quadros. As reminiscências cultas, principalmente da tradição pictórica europeia, têm sabor de vivência cotidiana: nascida no Rio de Janeiro, depois de se firmar no panorama nacional no âmbito da chamada Geração 80, a artista mudou-se para a Alemanha em meados da década de 1990, onde estudou na Academia de Artes de Düsseldorf sob a orientação do artista conceitual holandês Jan Dibbets. A obra de Cristina Canale responde, a sua maneira, aos intensos debates que embasam a pintura alemã do final do século XX, e, de maneira mais geral, está sintonizada com as problemáticas da produção contemporânea, logrando transcender as especificidades da pintura.
Exposições Individuais
2009
Contos, Galeria Silvia Cintra, Rio de Janeiro, Brasil
2008
Mondo Cane, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil
2007
Cenas, Galeria Baginski, Lisboa, Portugal
Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
Bolsa de Arte, Porto Alegre, Brasil
Galerie van der Mieden, Antuérpia, Bélgica
2006
Galeria Silvia Cintra, Rio de Janeiro, Brasil
2005
Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil
2004
Galerie Schmalfuß, Marburg, Alemanha
Museum Theo Kerg, Schriesheim, Alemanha
2003
Paço das Artes, São Paulo, Brasil
Galeria AM, Belo Horizonte, Brasil
2002
Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro, Brasil
2001
Galeria Marina Potrich,Goiânia, Brasil
Kunstverein Genthiner Elf, Berlim, Brasil
2000
Städtisches Museum Eisenhüttenstadt- Fürstenberg, Alemanha
Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil
1999
Kunstverein, Bretten, Alemanha
Galeria de Arte São Paulo, São Paulo, Brasil
Palácio das Artes, Belo Horizonte, Brasil
1998
Kunst im Stift, Koblenz, Alemanha
Galeria Anna Maria Niemeyer,Rio de Janeiro, Brasil
1995
Paço Imperial,Rio de Janeiro, Brasil
Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro, Brasil
Galeria de Arte São Paulo, São Paulo, Brasil
1992
Galeria de Arte São Paulo, São Paulo, Brasil
1990
Galeria de Arte São Paulo, São Paulo, Brasil
1989
Pasargada Arte Contemporânea, Recife, Brasil
1987
Galeria de Arte do Centro Empresarial Rio, Rio de Janeiro, Brasil
1985
Galeria Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
Exposições Coletivas
2009
Dentro do Traço, Mesmo, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil
2008
Positionen 2008, Galerie Noah, Augsburg, Alemanha
Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand, MASC, Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil
2007
Poder e Afetividade, Galeria Silvia Cintra, Rio de Janeiro, Brasil
Da Visualidade a o Conceito 80-90 Modernos Posmodernos etc, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
Um Século de Arte Brasileira, Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil
2006
É Hoje na arte brasileira contemporânea -coleção Gilberto Chateaubriand, Centro Cultural Santander Banespa, Porto Alegre, Brasil
The Image of the Sound: Football, Haus der Kulturen der Welt - St. Elisabeth Kirch, Berlim, Alemanha
Um século de arte brasileira - coleção Gilberto Chateaubriand, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil
2005
Transeuntes - América Latina - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil
Discover Brazil, Aktuelle Malerei, Skulptur, Installation, Ludwig Museum in Deutschherrenhaus, Koblenz, Alemanha
Piscinas, Silvia Cintra Galeria de Arte, Rio de Janeiro, Brasil
Arte em Metrópolis, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
Exposição de verão, Silvia Cintra Galeria de Arte, Rio de Janeiro, Brasil
2004
Onde está você, Geração 80?, Centro Cultural do Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil
2003
Arte em Diálogo, Artistas do Brasil e da Noruega, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil
Zeitgenössische brasilianische Kunst in Deustchland, Embaixada do Brasil, Berlim, Alemanha
Marcantonio Vilaça - passaporte contemporâneo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Brasil
Grenzsignale - ARCIS-DAAD, Santiago do Chile, Chile
2002
Colecão Metrópolis, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil
Em matéria de Natureza, Maison de l'Amerique latine, Paris, França e ICBRA, Berlim, Alemanha
Solar Grandjean de Montgny, Rio de Janeiro, Brasil
Caminhos do Contempôraneo - 1952/2002 - Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil
28(+)Pintura, Espaço Virgílio, São Paulo, Brasil
2001
Espelho Cego, Coleção Marcantonio Vilaça, Paço Imperial, Rio de Janeiro e Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil
Bilderwetter, Kulturring-Berlin, Berlim, Alemanha
Dozenten der Sommerakademie 2001, Künstlerhaus Schloss Nackel, Alemanha
Cristina Canale, Osmar Pinheiro, Sérgio Sister, Galeria A Hebraica, São Paulo, Brasil
1999
Moto Migratório, Rudolf Scharf-Galerie, Ludwigshafen, Alemanha
1998
Arte Brasileira Contemporânea, Künstlerhaus Berlin, Berlim, Alemanha
Moto Migratório, MAC-Ibirapuera, São Paulo, Brasil
Brasilianische Blick- Sammlung Gilberto Chateaubriand, Haus der Kulturen der Welt, Berlim; Luwig Forum für Internationale Kunst, Aachen; Kunstmuseum, Heidenheim, Alemanha
Geração 80, Galeria Marina Potrich, Goiânia, Brasil
1997
Peinture- Trau Deinen Augen, Hausvogteiplatz 2, Fundação Starke, Berlim, Alemanha
8 artistas brasileiros, Universidade de Greifswald, Alemanha
1996
Organicus, Instituto Cultural Brasileiro em Berlim (ICBRA), Alemanha
Galerie Drei, Dresden, Alemanha
Centro de Artes Visuais Tambiá (CAVT), João Pessoa, Brasil
Galeria Valu Ória, São Paulo, Brasil
Museu de Arte de Ribeirão Preto, Brasil
Dialog- Experiências alemãs, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil
Contrapartida, Kunstspeicher Potsdam, Alemanha
1995
Paisagem, Galeria de Arte São Paulo, Brasil
Anos 80, o palco da diversidade, coleção Gilberto Chateaubriand, Galeria de Arte do SESI, São Paulo, Brasil
1994
Images of the 80' and 90', Museum of Americans, Washington, D.C., EUA
Exposição Inaugural Galeria 1 / Opening Show of Galeria 1, Rio de Janeiro, Brasil
Papel do Rio, Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil
The Exchange Show , Center for Arts Yerba Buena Gardens, San Francisco, EUA e Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil
1993
Workshop Brasil-Alemanha, Maceió, Alagoas, Brasil
Guignard, a escolha do artista, Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil
Wiepersdorf 93, Castelo de Wiepersdorf, Alemanha
1992
Branco Dominante, Galeria de Arte São Paulo, São Paulo, Brasil
Eco-art, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil
Avenida Central, MNBA, Rio de Janeiro, Brasil
1991
BR-80, Pintura Brasileira dos anos 80, Fundação Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, Brasil
Viva Brasil Viva, Liljevalchs Konsthall, Estocolmo, Suécia
21.Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, Brasil
1990
Arte Moderna Brasileira, Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil
Olhar Van Gogh, MASP, São Paulo; EAV, Rio de Janeiro, Palácio das Artes de Belo Horizonte, Belo Horizonte, Brasil
Museu de Artes de Brasília, Brasília, Brasil
1989
Novos Valores da Arte Latino Americana, Brasília, Brasil
Canale, Fonseca, Milhazes, Pizarro, Zerbini, MAC-Ibirapuera, São Paulo, Brasil
Museu Municipal de Arte de Curitiba, Curitiba, FUNART, Rio de Janeiro, Brasil
1987
Novos Novos, Galeria de Arte do Centro Empresarial Rio, Rio de Janeiro, Brasil
1985
Velha Mania, desenho brasileiro, EAV, Rio de Janeiro, Brasil
1984
Como vai você?, geração 80, EAV, Rio de Janeiro, Brasil
Coleções Públicas
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), coleção Gilberto Chateaubriand, Brasil
Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Nietrói), coleção João Sattamini, Brasil
Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil
Itaú Cultural, São Paulo, Brasil
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-SP), Coleção Marcantonio Vilaça, Brasil
Museu de Arte Contemporânea de Olinda, Coleção Marcantonio Vilaça, Recife, Brasil
Coleção Metrópolis-TV Cultura, São Paulo, Brasil
Jornal O Globo, Rio de Janeiro, Brasil
Coleção da Stadt Sparkasse Frankfurt Oder, Frankfurt Oder, Alemanha
TEXTOS CRÍTICOS
Caminhos da pintura e o peixe amarelo
Luiz Camillo Osorio - 2008
A pintura de Cristina Canale surge nos anos 80 no Parque Lage, mas será depois de sua ida para Berlim, em meados da década de 90, que ganhará personalidade própria, um estilo singular. Nele, a vocação contemporânea mantém estreito vínculo com a tradição moderna. Este vínculo, ao contrário de lançá-la para fora do seu tempo, derivando para um formalismo vazio e anacrônico, vai comprometê-la com as múltiplas temporalidades que convivem e se enfrentam no presente.
Sua pincelada assume a crença moderna na potência da forma. Diante de suas telas nos surge uma figuração que parece existir por si, independentemente das convenções pictóricas que estruturam o aparecer das coisas. Há uma intensidade plástica que convoca o olhar sem um sentido dado de antemão. Convocação que põe o olho a trabalhar na difícil transformação da mera sensação em sugestão de sentido.
Há familiaridade no que vemos, com cenas casuais, uma temática simples e predominantemente doméstica. Todavia, ela vem marcada por uma intensidade cromática singular e pela sensualidade da própria pincelada. Deleuze em seu livro sobre Francis Bacon, faz uma observação sobre a cor que interessa resgatar aqui: "o colorismo não significa apenas cores que entram em relação (como em toda pintura digna desse nome), mas a cor que é descoberta como a relação variável, a relação diferencial de que depende todo o resto (...) se a cor é perfeita, quer dizer, se suas relações foram desenvolvidas por elas mesmas, você tem tudo, a forma e o fundo, o claro e o escuro".1 Nestas pinturas de Canale vemos que são as relações de cor que articulam as figuras no espaço, atraindo os corpos, dilatando ou comprimindo as formas, enfim, criando campos de força que mobilizam a nossa percepção. Ressoa aqui uma frase de Paul Klee: "eu e a cor somos um". Do seu trabalho com as tintas e suas múltiplas possibilidades de tons, luzes, vibrações, texturas, verificadas na superfície da tela, surge uma cumplicidade do olho com a experiência cromática e, a partir daí, com a cena pintada. Um olho que é ao mesmo tempo sensação e produção, que se emociona e se educa no jogo com as cores e as formas.
As figuras aparecem nas pinturas de Cristina Canale como se brotassem na própria tela. Há tanta cumplicidade entre as figuras e o fundo, entre a linha e a cor, que a impressão é de que elas vieram de dentro, como pequenas células que repentinamente germinaram e cresceram na superfície do quadro. É como se a figura fosse surgindo para potencializar campos/massas de cor postos em tensão. Não é tanto um exercício de precisão da linha, mas de contenção e expansão de uma energia cromática. Não me pareceria absurda a hipótese de que, de início, há apenas uma sugestão figurativa, e só na execução da pintura que a artista vai definindo, pela constituição dos campos de cor, quais os elementos que de fato permanecerão na tela.
A presença da figura é um ponto importante para a discussão de seu vínculo com a tradição moderna. Digo isso, na medida em que se tomou a abstração, a partir de uma leitura modernista simplificadora, como recusa da figura. Esta, todavia, não é toda a verdade da pintura moderna. Toda uma vertente expressionista, passando por Giacometti e Francis Bacon, assume a figura, assumindo, concomitantemente, a liberdade do acontecimento pictórico. A linha, a cor, os planos, elementos constituintes da "razão abstrata", estão na origem de todo processo de figuração. Em vez de tomar a abstração como uma superação da figura, esta é que seria um desdobramento daquela. A figuração só assume qualidade pictórica uma vez constituída uma afecção na superfície da tela dada pelos elementos "abstratos" da pintura.
Nestas suas pinturas recentes, há um esforço construtivo da linha que se mostra através da articulação geométrica do espaço. A presença mais evidente da figura junto à energia cromática de costume, poderia saturar a superfície pictórica não fosse esta contenção dada pela estruturação mais gráfica do espaço. Falando destas pinturas atuais, a artista declara que se sente "mais atenta à estrutura do quadro, meio que para rebater a figuração. Tenho procurado mais nitidez na estrutura, planos mais próximos, os campos de cor mais nítidos etc. Acho que no caso destes trabalhos com animais, entrou mais humor também"2. Esta maior nitidez estrutural da linha aparece mais nas pinturas do que nos desenhos. Onde a cor está mais diluída e os vazios deixam as massas de cor respirar, a linha pode ser mais solta e divagante.
O que se percebe nestas obras de Cristina Canale é uma atenção obstinada em relação aos meios da própria pintura - sua faceta moderna - ao mesmo tempo em que eles produzem na superfície da tela um repertório de sensações que intensificam nossa abertura para o mundo. Ao contrário da tradição figurativa, não há uma cena anterior ao quadro, mas sim algo que se desenvolve a partir do jogo de forças entre potências cromáticas e gráficas. É uma figuração sem representação, sem narração, construída a partir de sensações pictóricas e em nome de uma libertação das formas de ver dos modelos achatados de visibilidade.
Acima de tudo, a pintura de Canale é mais mancha do que linha, submetendo a figura às palpitações cromáticas e não deixando o contorno estabilizar-se. Nesta vibração, as coisas não se acomodam e estão sempre se contaminando, em constante metamorfose. Em um pequeno conto intitulado "Teoria das Cores", o poeta português Herberto Helder fala-nos de um pintor e de um peixe vermelho. Quando chegava à tonalidade desejada na tela eis que surge no peixe um nó preto atrás da cor encarnada. "Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose. Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo".3 Esta liberdade, que é uma espécie de fidelidade do artista à máxima poética de fazer ver sem se prender ao já visto, dá à pintura de Cristina Canale um frescor próprio. E, à pintura, uma atualidade necessária, de modo a multiplicar os modos e o tempo da nossa percepção das coisas.
fonte : Galeria Nara Roesler em 07/07/2010
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Canale, Cristina (1961)
Biografia
Cristina Canale (Rio de Janeiro RJ 1961). Pintora. Forma-se em desenho e pintura pela Escola de Artes Visuais do Parque Laje - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro, em 1983. No ano seguinte expõe pela primeira vez, na coletiva Como Vai Você, Geração 80? A partir de 1989, direciona sua pesquisa para a representação da paisagem. Em seus estudos na Alemanha, de 1990 a 1993, é influenciada pela arte japonesa e pelas obras de artistas como Claude Monet (1840 - 1926) e Jackson Pollock (1912 - 1956). Recebe o prêmio Governador do Estado, na 21ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1991. Nesse ano também participa da 3ª Bienal Internacional de Cuenca, Equador. Em 1993, ganha a bolsa atelier do Estado de Brandenburg em Wiepersdorf e, em seguida, bolsa do Deutscher Akademischer Austauch Dienst - DAAD [Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico], para estudar na Academia de Artes de Düsseldorf. Sua produção, no período da bolsa na Alemanha, revela uma nova fase de sua pintura, que é mostrada em individual realizada em 1995, na Galeria Anna Maria Niemayer, Rio de Janeiro.
Atualizado em 01/09/2006
fonte : Itaú Cultural
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